BLACKFIELD
Existem alguns músicos que são tão irriquietos que apenas uma banda não é suficiente para expressar tudo o que eles têm vontade. Temos vários exemplos disso, mas hoje é dia de falar de Steven Wilson. Mais conhecido como o líder e cérebro do Porcupine Tree, ele possui vários outros projetos interessantes fora da banda. De uns tempos para cá ele também ataca como produtor tendo trabalhando, por exemplo, em alguns discos do Opeth.
O Blackfield é um desses vários projetos que ele trabalhou fora do Porcupine Tree: outros exemplos são o No-Man, o I.E.M. (Incredible Expanding Mindfuck) e o Storm Corrosion. Tudo aconteceu quando o israelense Aviv Geffen ajudou a levar o Porcupine Tree para alguns shows em Israel. Aviv também tem uma carreira bem movimentada em seu país de origem sendo músico, produtor de discos e produtos de shows. No encontro dos dois, durante uma folga entre os shows, começaram a fazer algumas jams em um estúdio de lá. Mesmo com o pouco tempo algumas idéias foram surgindo junto com uma bela e produtiva amizade. Aviv participou fazendo alguns backing vocals e tocando piano e teclados em quase todas as músicas do excelente álbum Absentia (2002) do Porcupine Tree.
Porém aquelas idéias surgidas em Israel nunca foram esquecidas. Assim os dois resolveram que lançariam um EP com quatro músicas, mas após apresentarem suas idéias para a gravadora, e obtendo uma boa repercussão, foi solicitado que um full-lenght fosse feito. A distância entre os Estados Unidos e Israel e a agenda apertada dos dois atrapalharam um pouco os planos, mas no início de 2004 o álbum auto-intitulado estava nas lojas.
Para tentar resumir qual o estilo de som do Blackfield eu tento fazer um parâmetro com as músicas mais melódicas do Porcupine Tree mais umas pitadas pop de bandas da brit pop, principalmente as que se assemelham ao Radiohead. Steven comenta que a banda segue a tradição pop de estrofe/refrão/estrofe/refrão e o que chama atenção logo de cara é que as músicas são muito mais curtas se comparadas com a sua banda principal.
O álbum abre com um dos destaques do disco, “Open Mind”, com uma bela linha de voz feita em dueto por Wilson e Aviv sobre um dedilhado suave ao fundo. Destaque para o riff cadenciado nos finais das estrofes. É seguida pela viciante “Blackfield”, uma balada com Wilson brincando com os sons das palavras. Não consigo deixar de ouvir essa música pelo menos duas vezes quando coloco esse álbum para tocar. Mas o que faz a música ser o que é são os teclados com camadas que se sobrepõe aos outros instrumentos.
Apenas alguns poucos solos e riffs principais tem o peso de uma guitarra distorcida durante todo o álbum. Creio que a idéia tenha sido essa mesma. Focar nas melodias vocais e climas feitos pelos instrumentos. Wilson toca sua guitarra limpa e Aviv muitas vezes só usa o violão, como podemos ver no DVD lançado em 2009. Wilson e Aviv se revezam na função de cantor principal nas canções, mas muitas vezes cantam junto e suas vozes tem timbres que se encaixam perfeitamente. Mal comparando, mas já comparando me lembra o que Gilmor e Wright faziam no Pink Floyd.
“Glow” é a faixa que mais mostra aquela cara de brit pop que falei antes, principalmente pela mensão ao Radiohead. Outra que lembra Radiohead é “Scars”, principalmente pela bateria no início acompanhada de dedilhados de guitarra. Seu refrão também vai marcar bastante a audição de quem for atrás do disco.
A voz de Aviv aparece bem em “Lullaby”. Uma canção que inicia ao estilo piano voz, mas com teclados de fundo que fazem toda a diferença. Nessa hora que percebo que esqueci completamente de dizer o nome dos outros músicos, principalmente o de Daniel Salomon (também conhecido como דניאל סולומון. Ficou muito melhor Daniel, não?). Completava a banda na época Seffy Efrati no baixo e Chris Maitland na bateria. Alguns teclados também foram gravados pela dupla fundadora da banda.
Outro destaque vai para “Pain” também com um bom refrão e que é seguida por “Summer” com uma bela melodia e alguns efeitos nas vozes que dão uma cara toda especial à faixa. Finalmente temos a densa e melancólica “Cloudy Now”, que é certamente o maior destaque do álbum. É feita basicamente com violão e voz, mas os mais atentos vão perceber que os teclados no fundo e a guitarra com notas soltas é que dão o charme à música. Essas adições de teclado e guitarra foram muito usadas pelo Pink Floyd (eles de novo!). Já no seu fim a faixa atinge seu clímax com a adição de peso e distorção tanto na guitarra quanto na voz. Porém esse clímax é também o fim da canção. Nessa hora pensamos que essa história de músicas curtas as vezes atrapalham. Imaginem se eles desenvolvessem ainda mais essa faixa!!!
Já na parte final do álbum ainda temos “Hello” e “Where is My Love”, baladas que teriam um ótimo potencial radiofônico e poderiam virar hit em qualquer lugar. Essa última aparece apenas na edição com bonus track que também tem "Cloudy Now" em uma versão ao vivo.
O Blackfield ainda lançou em 2007 Blackfield II, em 2009 o bom ao vivo NYC (que também saiu em CD e já foi citado acima) e no ano passadoWelcome to my DNA. Todos eles trabalhos de alto nível desse projeto que é certamente o melhor trabalho de Steven Wilson fora do Porcupine Tree.
"A maneira perfeita de se expressar com facilidade é através da música. Nossos sentimentos mudam na maioria dos casos de raiva, amor, paixão e alegria. Podemos nos sentir fracos ou mesmo com medo de expressar o que sentimos pelos outros ou sobre uma determinada ocorrência, mas quando resolvemos a música, tudo fica claro e firme. A música também tem um efeito terapêutico em nossas vidas. Lembra quando você estava doente ou cuidando de um paciente e o médico liga uma música baixa e suave? O sentimento foi inspirador, certo?"
FONTE:https://www.blackfield.org/about-the-band/
http://consultoriadorock.blogspot.com/2012/10/blackfield-blackfield-2004.html